sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Liturgia na virada do século VI

Em 313 o imperador Constantino decretou liberdade total para a Igreja, dando fim às perseguições. Ser cristão, agora, significa também ser cidadão do império. O cristianismo se converte em religião oficial do império romano em 380, sob o imperador Teodósio o Grande. A Liturgia passa a sofrer profundas e duradouras mudanças em sua forma e compreensão. Nos séculos anteriores as celebrações aconteciam em regime doméstico, em grupos geralmente pequenos, de forma espontânea e simples. A partir de agora, sobretudo para celebrar a eucaristia presidida pelo bispo, os cristãos passam a se reunir em ambientes amplos, nas basílicas e, pela influência então direta da cultura romana, as celebrações se transformam em algo progressivamente solene e régio. 

Neste período a Liturgia recebe elementos próprios da cultura, se transformando em suntuosos “cerimoniais pontificais” adaptados dos cerimoniais usados na corte. Os ministros ordenados, no serviço do altar, são revestidos de uma dignidade, de honras e indumentária próprias dos mais altos dignitários do império romano. O “imperador” agora é Cristo, representado por seus ministros revestidos de honras e dignidade à altura. Agora os cristãos chegam a adotar elementos rituais pagãos para celebrar a Liturgia: 

· Os cristãos adotam a prática pagã de tomar refeição junto do túmulo, deixando parte do alimento e bebida para o falecido;

No Oriente, adotam a prática de formular orações com peculiaridades próprias das orações helenísticas (pagãs): com orientação solene, multiplicando atributos divinos (infinito, inefável, incompreensível); 

· Adotam a prática romana de invocar as divindades com a súplica litânica: “Livrai-nos, Senhor” ou “Nós vos rogamos, ouvi-nos”; 

· Adotam o costume de beijar o altar e imagens sagradas (gestos pagãos de reverência); 

· A palavra mistagogia (introdução aos mistérios cristãos) foi adotada da religião dos mistérios; 

· A veste branca, usada pelos recém iniciados na religião dos mistérios, foi adotada pelos cristãos como sinal distintivo da dignidade batismal aos recém iniciados nos sacramentos cristãos; o mesmo aconteceu com a vela batismal; ainda no batismo, adotou-se o costume de voltar-se para o Oriente, sob influência das religiões solares mediterrâneas; 

· A festa do Natal entra no lugar da festa do nascimento do deus-sol da religião pagã; 

· A festa da cátedra de Pedro (22 de fevereiro), substituiu a festa romana que comemorava os antepassados falecidos; 

· O batismo na noite da Páscoa e a ideia de “vigília”, também vêm do mundo cultural greco-latino; 

· O costume cristão muito antigo de fazer profundo silêncio no momento central dos ritos e, especialmente, das fórmulas sagradas. 

· Numerosas expressões do vocabulário litúrgico-cristão: “liturgia”, “eucaristia”, “mysterium”, “prefatio”, “canon”, “anámnesis”, “epiclesis”, “ágape”, “epifania”, “adventos”, “exorcismus”, “doxologia”, “aclamatio”, “hymnus”, “vigília” etc;

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