sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A Formação da Liturgia Romana Pura - Séculos IV a VIII


Sendo o cristianismo religião do Império, os bispos romanos foram adquirindo crescente prestígio e autoridade. Nesta época, vão criando novos ritos, escrevendo inúmeras orações. É um período muito dinâmico, de constante inovações. Eles adaptam a cultura da época às exigências da fé. A liturgia romana vai ganhando força e esplendor.

A celebração tem caráter eminentemente comunitário, com atuação de diferentes ministérios na celebração. Para cada ministério foi organizado um livro litúrgico. O primeiro deles, o Sacramentário, é o livro que contém as orações presidenciais tanto para a celebração da eucaristia como dos demais sacramentos. Remontam aos séculos V e VI. 

Para proclamar a palavra de Deus na Liturgia, se fez uma seleção de textos bíblicos, que depois são copiados num único livro, de forma ordenada, segundo o correr do ano litúrgico. Nasce assim o Lecionário: o livro litúrgico dos ministros encarregados de proclamar a Palavra de Deus. Compreendia dois livros, segundo sua finalidade: o Evangeliário (para uso do diácono) e o Espistolário (para uso do leitor). Remontam aos séculos VI e VII. 

Surgem também os Antifonários, igualmente dos séculos VI e VII, que são coletâneas de textos e melodias para serem usadas pelo coro na missa. Há ainda os próprios para serem usados no Ofício Divino. 

Enfim, temos o Ordo, livro que descreve o modo de executar as ações litúrgicas. É um livro de rubricas, isto é, de normas e orientações para que as ações litúrgicas decorram em ordem. Para cada tipo de celebração existia um Ordo. Por isso, somam ao todo uns 50. 

Pela amplidão dos espaços basilicais e a adoção de solenidades provindas de usos imperiais, foram introduzidas na missa três grandes procissões, todas elas acompanhadas de um canto: 

· - a solene procissão de entrada (Introitus) do presidente com seus ministros; 
· - a procissão levando ao altar os dons do pão e do vinho; 
· - a procissão em direção ao altar para receber a comunhão sob duas espécies.

No final de cara procissão foi introduzida uma oração (respectivamente: coleta, sobre as oferendas, após a comunhão), que varia segundo o correr do ano litúrgico. 

Também se ritualiza a proclamação do evangelho, reservada ao diácono e precedida de uma procissão acompanhada de luzes, incenso e a aclamação do Aleluia. 

Praticamente desaparece a oração dos fiéis (só fica na sexta-feira santa). Mas a aclamação “Kyrie eleison” (“Senhor, tende piedade de nós”) desta oração permanece, porém deslocada para o início da missa. 

A oração eucarística (chamada “cânon romano”) é única, imutável (com pouquíssimas exceções) para todos os dias do ano, mas com uma grande variedade e riqueza de prefácios. 

Aos poucos, por influência dos papas de origem oriental, foi acrescentado na missa o canto de um antiquíssimo e famoso hino chamado “Glória” e também do hino chamado “Agnus Dei” (“Cordeiro de Deus”), na época do pontificado do Papa S. -Sérgio I (687-701). 

As orações (coleta, sobre as oferendas, prefácios, após a comunhão) traziam evidentes traços do gênio romano: nobre simplicidade, sobriedade, concisão, praticidade. Com poucas palavras (e em forma literária elegante), elas se atêm no essencial (o mistério celebrado). São geralmente dirigidas ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo. 

A celebração eucarística na Liturgia romana clássica tem como finalidade adorar a Deus Pai, mas por meio de Jesus Cristo, na representação do seu sacrifício único. O culto eucarístico é impressionantemente sóbrio. Com muita reserva se fala da adoração do santo alimento. Não existiam sinais de veneração no momento da consagração, nem depois. Muito menos existia adoração ao santíssimo durante a missa, como se entende e se faz hoje. As próprias orações depois da comunhão evitam as palavras “corpo” e “sangue”. Elas falam da eucaristia como “alimento” e “bebida”, “sacramento”, “mistério sagrado” e “dom celeste“. Na missa romana, a eucaristia nos é dada acima de tudo para ser comida e bebida, e não tanto para ser adorada. 

Quanto ao ano litúrgico, o domingo se converte oficialmente em dia de repouso, possibilitando celebrações eucarísticas mais longas e solenes. Os diversos tempos litúrgicos se organizam de maneira estável e com matiz próprio. O Natal passa a ser preparado por um tempo de quatro semanas chamado Advento. A celebração anual da Páscoa se estrutura na forma de um Tríduo pascal formado pela Sexta-feira santa, Sábado santo e a Vigília pascal, celebrando respectivamente a paixão-morte, sepultura e ressurreição do Senhor. Organiza-se um tempo de quarenta dias (Quaresma) de preparação para celebração do Tríduo, e a festa da Páscoa se prolonga por cinquenta dias (Tempo pascal) que culmina com a festa do Espírito Santo no quinquagésimo dia (Pentecostes). Também se introduzem festas especiais de Maria e memórias dos mártires e outros santos. 

A iniciação cristã atinge a máxima solenidade, depois de um catecumenato bem estruturado e programado. A penitência é pública e a celebração de reconciliação dos penitentes é feita na Quinta-feira santa com toda a comunidade. As ordenações são celebradas segundo a antiga tradição, com adaptações nas orações, e o povo colabora ativamente na eleição dos candidatos. O matrimônio não era feito na igreja. A bênção nupcial era dada pelo ministro ordenado, na casa dos pais do noivo, na hora do contrato. Quanto à unção dos enfermos, importante é a bênção do óleo pelo bispo, e o seu uso não é restrito aos sacerdotes. 

A participação do povo na Liturgia continua sendo espontânea e viva, com grande equilíbrio entre o pessoal e o comunitário. 

Sobretudo a partir do século VI, desenvolve-se o canto litúrgico, dando à Liturgia um tom ainda maior de solenidade e de elevação artística que atrai e comove o povo.

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